Porra!



Às vezes, muitas vezes grito Porra!
e sem pudor também choro
Não fui germinado em terra negra
nos altos fornos do Diabo
Nem tolhido em terra de celibato
nas galerias ancestrais da castidade

Grito quando me irrito
À revelia do sossego instituído
Do pão desperdiçado, negado a quem tem fome
Do trabalho exagerado exigido ao coitado
Tudo me irrita, Porra!
Quando se tropeça na calçada percorrida
nem um braço, abraço, um apoio
como que sem dinheiro não fosse vida
Quando se fala e ouvem mais as paredes 
essas que não julgam nem apontam o dedo

Também choro quando vejo sofrer 
A dor de uma criança que não tem pão para comer
um brinquedo para rir, umas sapatilhas para correr 
O pai e a mãe, de sol a sol, negros de trabalho exagerado 
não calam o choro da criança 
que nem assim baixam os braços ou perdem a esperança 
Choro e não tenho vergonha 
Quando a caridade é efemeridade para a fama
de quem exige trabalho forçado mal pago
Quando o chicote esvoaça e mata

Grito e choro da diferença imposta
Da traidora falsidade de agradar
Da sonegada liberdade para brilhar
e da falta de oportunidade para estar e ser 
De perder para a justiça do rico
sem árbitro livre ou que não está adormecido
Grito Porra! e escorrem lágrimas
De príncipes e princesas fabricados
instruídos para fugirem da criança que não tem pão 
e um brinquedo dourado na mão 

E Porra!
Choro!
Quando a mãe que adoece e médico não tem
no sorriso belo de ouro engana a dor
na arena de leões é o único gladiador
e de pé, firme, grita: está tudo bem! 

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