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A mostrar mensagens de maio, 2022

Pai Nosso

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Photo by Alicia Quan on Unsplash Rezemos um Pai Nosso Os mais crentes uma Avé Maria Que roga por nós pecadores Exorcizemos os nossos pecados E esquecemos o resto dos dias Ajoelhemo-nos em penitência Recebendo a consagrada hóstia Entoamos a Aleluia O cântico abençoado E esquecemos o resto dos dias Coloquemos o cilício Em oferenda de conversão Pai Nosso perdoa nossas ofensas Nós a quem nos tem ofendido E esquecemos o resto dos dias Sigamos em procissão Os passos de Jesus Cristo pesarosos Visitemos os nossos entes mortos Em campa fria só de ossos E esquecemos o resto dos dias

Maio

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Acordou radiosa esta sexta-feira Maio verde e florido Um coro de pássaros em canto de poesia Esta manhã verdadeira Não se esconde entre mantos Tocam os grilos a primaveril sinfonia Que um abraço é refresco para o dia E um beijo a minha alegria Invadem as ruas aromas dos jardins Dos verdes campos e afins Trazidos em toques de misteriosas brisas Da ausência que me faz delirar Um abraço, um beijo, o conforto da tua presença

Fardo

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Photo by Alexander Krivitskiy on Unsplash Se eu pudesse falar Dizer O que vai em mim Sem que seja pesado fardo Para ti Soltar esta vaidade De estar apaixonado Libertar Dessa morfina Da distância do sonho Mas que não seja fardo Para ti Carrego eu Só eu Auxiliado por um receio Todos os gritos De desejo Dizer Só para mim Acorrenta-me, em Mosteiro O silêncio O delírio da ilusão E eu combato Este exército miudinho Desde as entranhas Dominadas E não te tiro de mim Calado fico Para ti O fardo seja meu Porque assim eu quis 

Trepadeira

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Photo by OvalDreamX on Unsplash Trepadeira  que entrelaça numa confusão imperfeita trepa em vigorosidade apertada paredes, escaleiras e troncos chegando ao topo não se detém entrelaça novo destino esta trepadeira que entrelaça e de mim fez novo inquilino

O Búzio e o Mar

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Mais um dia Enumera-se até ao infinito O tempo inteiro da criação De um oceano de perder de vista A viagem que nunca mais termina  Mais um dia Em que os passos são nulos sem ideal Guardados no refúgio de um búzio Na imensidão do areal Protegido na sombra de uma arriba Mais um dia Em que as gaivotas se ouvem ao longe Numa algazarra de alegria  Entretidas pelo tanto alimento do oceano Distantes da árida arriba Mais um dia E já vão sendo muitos Que neste areal só esse búzio habitado Encostado na arriba isolado Solta as gotas salgadas desse oceano Mais um dia E não basta Em que as marés, ora perto, ora longe Não afagam o triste búzio Que em desespero de solidão  Imita o som hipnotizante do mar Na certeza que alguém o venha pegar. 

Aparência

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Photo by John Schaidler on Unsplash Vivemos o Agora que pouco valemos, senão só uma aparência concebida em visão de uma cega evidência. Somos o que tu queres ver, sem perguntar, sem conhecer, sem querer saber o que sentimos. Somos aquilo que não és e que não aceitas. Com facilidade rejeitas! Que somos todos, tu também, Humanidade. Esta aparência cegamente concebida por ti, que vives um Agora e espaço só teu, que te turva a mente, é um forte véu. Assim, tornamo-nos únicos, raros. Firmes, em que o horizonte se perde no vasto céu. Não paramos! E não te mudamos. Vê o que queres ver, mesmo sem sentir, mas não te arrestes na nossa aparência. Rico, pobre, remediado, Homossexual, transsexual, heterossexual, tolos ou ideólogos, talvez elaborados snobs . Mas somos! O que construímos, o que sentimos. Somos a coragem de ser assim,  mas não por ti. Essa diferença completa a vasta diversidade, em que todos somos. Somos a Humanidade!

Insónia

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Photo by Angel Luciano on Unsplash Cobertor     lençol     almofada     fronha                     tudo o que me pesa Mexo     remexo                                 alucinação Tapo-me      destapo-me     tudo pesa     desperto! Está escuro     sereno     não há monstros      por agora!                                                                         Faltas tu. Ajeito a almofada     fecho os olhos           regresso ao revirar da alucinação Mexo     remexo     alivio o peso     não o pensamento Está só escuro     manhã distante     por fim adormeço Acordo                                                                         só

O Tempo que Esgota o Momento

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Photo by Jon Tyson on Unsplash Aquele momento em que tocamos no interruptor Acto breve e simples em que se extingue a luz E os espaços tornam-se em sossego para uma dor Só então se apercebe que breve foi o dia Quando as horas se diluíram em segundos E o tempo que era tanto afinal não bastou Usurpa-se, então, os momentos que não controlamos Em que o tempo, sem se entender, é de sua vontade Esse tempo que nos foge e que ele mesmo afugentou Esse tempo que faltou, que iludiu Que nos deixou embalado pelo gesto suave Um sorriso genuíno e um beijo quente E ficamos aí, detidos, nessa inebriante vontade Sem nos apercebermos que o tempo, esse maldito De sua vontade, incontrolado, esgotava Então, faltou tempo! Que agora tanto sobra, que desliga, em acto automático A luz e carrega a dor do sossego O tempo que devia ter sido basto E não só aquele instante momento O bastardo que não regressa Mas que se apressa Sem dó, trazer na memória esse breve tempo Em acto cruel que nos torna fieis em esperança

Flôr de Macieira

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Flôr pura branca de macieira Anúncio de Primavera Amadurecida pelo tempo Fruto doce suculento de desejo

Agora... Só em Mim

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Vi, conheci, vivi Empoleirado, bem alto, convencido Passo largo, apressado, atabalhoado Instante, sentido, emotivo Por agora só, um momento, só Que salto, sobressalto, o espanto deste pranto Em travesseiro, atravessado, deitado Canto sem encanto, por enquanto é tanto Calado, abafado, a coberto de cobertor Encerrado, deitado de lado, que triste fado Aqui, sem ti, só em mim

Os Pássaros Voam para Sul?

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Photo by Mehdi Sepehri on Unsplash Disseram-me que os pássaros voam para Sul, procuram alimento e calor. A uma distância tão grande e não se perdem, focados no renovado habitat, voam e voam. Eu não sei se acredite. O que vejo são pássaros no céu, de um lado para o outro como loucos perdidos mesmo quando o frio aperta na mais alta cidade da beira. E assim duvido dessa, quem me disse, certeza. Eu não tenho sul para onde seguir, focado no calor de um beijo teu, como um louco perdido, ando de um lado para o outro e não acerto no caminho. Como é que os pássaros voam tanto? A mim, nem a brisa ajuda, não indica se é por acolá o quente sul, o habitat verde e abundante de abraço teu. E então não duvido, na minha única certeza, que os pássaros não voam para sul.

Jogo do Galo

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Photo by Arib Neko on Unsplash À volta do adro, tantas vozes a gritar No jogo do galo - Avança! - Um só passo, vai! - Anda para trás, um passo à esquerda. Que sobressalto no jogo do galo. Rodopio nas zonzeiras das intenções Tantas falsas indicações E agora? Em quem confie que me guie? Com tanta gente a estar de fora Arranco a venda, largo o cajado Não alcanço o galaró do prémio - que se lixe! Enfim, agora livre Sei para onde ir

O Quarto...Espaço tão Curto, Pequeno, Ausente

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Photo by Priscilla Du Preez on Unsplash Não entendo a utilidade de uma cadeira num quarto sem luz, vazio, sem espaço de sala, nem uma mesa. É só um corpo, absorto em silêncio quando a solidão não precisa de companhia. Não é só um instante! Agora é que me detenho neste espaço que me livra de navegar à bolina e sem esforço, assim descanso tão atento, introspectivo no silêncio que nem um surdo traduz mas percebe que a ausência é morfina para o serpentear de procurar, sempre em sobressalto o que havia de compreender do silêncio tão incauto, tão prematuro! Como é espaço sem luz, não tem janela torna inútil a visão, porque com ela perco-me no tremor de te voltar a ver e sem me deter correr, correr e correr Para esses braços que um dia derrubaram o muro, alargaram este curto quarto, abriram a janela.