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A mostrar mensagens de julho, 2022

Nuvens

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Photo by Nikolas Noonan on Unsplash Fim de tarde deste Verão, na calma junto do manto cristalizado estendi a velha manta de retalhos e fiquei sossegado, a olhar, deitado As nuvens a tocarem-se como um entrelaçar das mãos em toque suave de sedução A aproximação dos seus lábios carícia com calma, com tempo e as mãos que voltam a tocar juntas, como curiosa exploração O beijo que agora foge e se funde perdido no relevo dos seus peitos Aumenta a temperatura esse toque com tempo Aguarda-se a humidade sem revolta mas tremendo As nuvens como duas pessoas apaixonadas unidas, a provocada extasiada explosão

Florzinha

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Que mal tem admirar uma flor e querer habitar nesse jardim ver cores de arco-íris compostas sentir em cada uma o suave odor de cada pétala que embeleza esse manequim? Que imagem de mim transportas quando por mim passas e não falas enches o peito e andar musculado e te atreves nesse ar satisfeito  dirigir duras balas vil arma carregada de preconceito? Pois bem um jardim é beleza é o lindo ventre de todas as mulheres  o seu corpo de pureza como ordenados malmequeres que só desejam ter amor de alguém E agora que imagem tens de mim que vil ideia construíste só porque admiro e não piso cada flor do jardim? 

Os Outros da Vida

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O que faz o hábito de nós  Seres vigilantes Acostumados A uma mesa do café Ao banco de um jardim Procuradores de bons costumes Rigorosos desse firmamento Presos no mesmo pensamento Somos a mínima existência Como câmaras de vigilância Ofuscados Nas serras estéreis E nos campos abandonados Uma vez ou outra até podemos imaginar Acabando por habitar Sem coragem para aventurar A vida de todos os outros Os atrevidos Sem reflexo em nós 

Hoje (não para mim)

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Teima o dia em despertar Hoje que não é dia Nem momento de acordar E o ontem que não regressa Que ontem (se não me engano) As folhas das árvores dançavam Com os ritmos quentes da brisa de verão Os pássaros pulavam de ramo em ramo Um e outro, sem pressa Como se fossem brincadeiras de criança Mas hoje (o dia que não quero) Tenho as mãos frias O corpo pesado, imobilizado, E o olhar fixado Nas rosas (que tanto gostas) Que são só pétalas desiludidas Queimadas Nesta terra que já não me aquece Que não me move Para que o hoje tenha aparecido E aqui tenha ficado No ontem perdido Logo hoje que não devia ter existido

Na Cidade que Resido

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Nesta cidade Farta, Forte, Fria, Fiel e Formosa Passa longe um rio Escondido entre montes e muros Um rio que farta Tanto olival, hortas e gado Crianças que nele refrescam Sonhos para outros destinos Montes de fortaleza E muros de contenção De toda a criação que esteja para vir Ou de toda que deseja progredir Frio de ideias Cópia de outros que estão longe Para os lados do Atlântico O santo que agradece A fidelidade de quem para ele sorri Mãos abertas costas curvadas O rio que lava Poeiras e detritos Da tão encapuçada formosura  É esta cidade guardada Sob o cajado do pastor das estrelas Tão bem conservada E amada no tempo da Ribeirinha

Enxada

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Sem-ti Mãos rudes, calejadas  Gretadas A toque do cabo da enxada Terra seca sem ser regada Cavar, semear Amainar O tempo de germinar  Colher Sem enxada em minha mão  Ou o suor que escorre  Escreveria a suave toque  Mas de alma pobre  Sem ter como alimentar Este fraco escrever

Sexta-feira Sem...

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As sextas-feiras são serenas Silenciosas Depois das dezoito horas Ao contrário dos astronauras da folia e bebida  Depois das dezoito sossego Encubro todos os meus desejos sob mantas Na penumbra de um sonho paro o tempo  Descrevo-te, de novo  lembrado do quente aconchego  A minha máquina do tempo Regresso, corrijo, avanço  Ver as árvores a florirem as folhas a caírem  Alcançar  A nossa esplanada de novo livre Só para nós. 

Cartas de Amor

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Photo by Ire Photocreative on Unsplash Nem que seja amarrotado ou queimado o intento de amar e de o querer afirmar fica mesmo assim o desabafo em folha registado Disfarçado do medo de falar e protegido do ouvir E mesmo que se perca nos ermos montes da vida as cartas de amor são escritas guiadas por quem reside no coração do remetente que dita as palavras tão sentidas Palavras que despertam o doce em mil sabores ou num amargo salgado de uma futura dor E disso somos, agora, tão cautelosos preocupados com tanta hipertensão que abandonamos de vez, receosos de escrever a elegante carta de amor

Recordo-te

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Ali em cima tão longe onde habitam os anjos Mais um asas douradas aladas Saudades eternas habitado o meu Olimpo  este palácio  mil festas haverá contigo Um brinde do néctar rubro com os Deuses sozinho não estou por cá  Saúdo-te  ergo o copo A Ti, meu anjo mais um. 

Noite de Verão

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Deito-me, envolto pela tormenta do lençol como ondas que voltam e revoltam não param Estas noites de Verão na fornalha do Inferno  E... Provavelmente mereço! Despertar a arder sem ser este o meu sofrer Entre o pânico de procurar o ar Perguntar  Porque foste, assim tão breve? Sem aguardar Agora que os Demónios e Arcanjos bailam Juntos!  que o Céu e o Inferno se uniram As confidências já não são segredo perdidas no esperneio de voltas e mil voltas Que nesta tormenta de calor já não mais posso perguntar  Porque te foste!

Porra!

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Às vezes, muitas vezes grito Porra! e sem pudor também choro Não fui germinado em terra negra nos altos fornos do Diabo Nem tolhido em terra de celibato nas galerias ancestrais da castidade Grito quando me irrito À revelia do sossego instituído Do pão desperdiçado, negado a quem tem fome Do trabalho exagerado exigido ao coitado Tudo me irrita, Porra! Quando se tropeça na calçada percorrida nem um braço, abraço, um apoio como que sem dinheiro não fosse vida Quando se fala e ouvem mais as paredes  essas que não julgam nem apontam o dedo Também choro quando vejo sofrer  A dor de uma criança que não tem pão para comer um brinquedo para rir, umas sapatilhas para correr  O pai e a mãe, de sol a sol, negros de trabalho exagerado  não calam o choro da criança  que nem assim baixam os braços ou perdem a esperança  Choro e não tenho vergonha  Quando a caridade é efemeridade para a fama de quem exige trabalho forçado mal pago Quando o chicote esvoaça e mata Grito...

Enchanté (de toi)

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Photo by Natalia Sobolivska on Unsplash Encantado Já estive aí Quando sorriste para mim Encanta-me outra vez (só desta vez) Para voltar a sonhar Encanta-me Que mais nada tenho Senão só o teu sorriso Encanta-me (teu encanto tão genuíno) Que me faz perder o meu sentido E ser encantado Não é ser iludido Como se isso fosse possível nesse teu autêntico jeito Encanta-me (só desta vez - sorri mais uma vez para mim) Só mais uma vez

Digo-te o Adeus que não Quero

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Distraí-me quando sorriste Perdi-me no teu jeito meigo Nas melodias das tuas aventuras  E depois de sossegar o entusiasmo  Fui dominado, sem eu querer, pelo silêncio  Fechado, só, na esquadria da esplanada  E tudo o que queria era a ti Entre uma aventura ou um só passeio Perdi-me No meu desejo altaneiro  Entre estradas e caminhos  Todas as curvas e contra curvas  Nos cruzamentos das ruas Dos encontros aos desencontros  Dos segundos que ficaram dias Nesta esplanada fechada Deixei-te ir Em meu envergonhado sorrir Aos teus lugares distantes Para tu seres feliz. 

Prazer

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Autor: desconhecido O degelo A lenta fusão  Do estio prazer e um olhar revirado A emoção torneada O demônio exorcizado Soa a corneta do Anjo carnal Na torre da cúpula dourada A volúpia da pele nua Excitada O suor em toque No veludo humedecido Suado Aberta a arca dos segredos Atrevidos Sob as estrelas envergonhadas E sarcedotisas indignadas O silêncio rasgado No atlântido jardim suspenso A pureza perdida O paraíso encontrado

Velho Lobo

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Photo by Tom Pottiger on Unsplash Ouve-se o uivo do velho lobo na serra Calaram-se as corujas As fuinhas resguardam-se nas tocas É o chamamento O corpo do velho repousado Iluminado da fenestra pelo luar O canto da cegonha ouve-se pela manhã O velho lobo recolhido pela alcateia No sopé da montanha humedecido Do choro das nuvens deste Inverno Pairam os cristais divinais da pureza E afastadas as andorinhas e os melros É a renovação da alcateia O silêncio do uivo do velho lobo Inicia-se uma nova vida

Soltar

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Quero descalçar-me! Tirar estes rudes sapatos (gastos) Livrar-me deste sufoco Libertar-me! Rasgar a camisa (de força) E refrescar-me! Logo de manhã pela fresca sentir nos pés a erva molhada a terra macia Soltar-me! Sem mais, sem olhar atrás e correr Descalço, despido da força de te amar (esta intensidade tão atada) Procurar novos destinos desatar os nós apertados libertar o coração no peito cingido E um dia voltar afirmando Agora, descalço, sou feliz!

Mundo Suspenso

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Photo by Yukon Haughton on Unsplash Neste momento o meu pequeno espaço parece o mundo e tanta casa devastada bombardeada e eu livre, divertindo-me Escola encerradas crianças encarceradas no tormento da explosão não há tempo para a brincadeira perdeu-se a jovial ilusão Nem pão, vinho ou água ou cama para repousar e eu livre, tenho tempo para sonhar Amigos perdidos amantes desaparecidos entre bombas e mísseis procuram a liberdade No curto espaço refugiado a morte é visita e companheira e eu no meu mundo desencarcerado abraço a felicidade, canto e danço

Beira Rio

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Sentei-me à beira rio com o mar ainda distante Crianças e pais em terna algazarra É o Verão na serra para quem o mar ainda não está nos dias remediados ao alcance Água fresca do rio ainda jovem e as crianças que correm Vai um pulo, um mergulho É um sossego que o rio não tem ondas e o mar, ainda distante deixa os pais na sombra dos sonhos Talvez uma viagem ou excursão quando da horta não é preciso tratar é toda uma vida, sempre a trabalhar E à beira rio contemplei todas as conversas sem delírio o som apaziguador do rio que corre que um dia encontrará esse mar distante

Dias Comigo

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Queres tomar café comigo? Estou aqui sozinho. Nesta esplanada ou em outra mais ao lado.  Já há poucas mesas livres  Não interessa a quantidade de amigos E todos os telefonemas perdidos A efemeridade dos segundos contados O novo isolamento auto-medicado Mesmo com outras mesas ocupadas Mantenho-me isolado Imaginando a vida de quem passa Em apneia sôfrega a olhar a rua Nem me apercebo de novas saudações  Tenho como pedido só um café  O telefone em silêncio  Na companhia de um cigarro E na esplanada calado fico. 

Amor... Viver

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Photo by Matthew Henry on Unsplash O Amor Atrevido despudor Fantasia de nudez Embriagado Por Vénus e Baco É salteador Saltador Assaltador E o que mais pode acabar Em dor É campo despido Desprotegido Incerto e choroso Como dias de Abril É ougado Insaciado Com todo o início apressado É vento, ventania Que embala e abala Mas é o Amor! Destemido Sincero e nada arrependido E sem ele não sei viver.

Amargura

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Lágrimas que escorrem entre rugas, esculpidas nas escarpas dos dias, são elas as cascatas em Inverno. A intransigência de uma desilusão anotada a tinta permanente neste caderno. A gazela que foge afoita do leão, em corrida desenfreada de sobrevivência, nesta savana extensa e estéril tão longa que não acalma a existência. Uma cotovia no topo de uma árvore. de tantos voos e cantos entoados nas manhãs quentes e alegres, por fim cai, entre ramos escorre, e os que reparam são tão poucos. No fim o que fica registado no palato, o forte sabor severo de um limão sem um adocicado estrato de uma paixão.